Homilia do II domingo de Advento 

Jesus e um Homem estranho chamado João 

Caros Irmãos, o Evangelho deste domingo apresenta-nos o início do Evangelho de São Marcos.  O início da história de Jesus, o Filho de Deus. Mas, diferentemente do texto inicial dos outros Evangelhos, hoje em São Marcos não vamos escutar a história de Maria, nem o sonho de José. E também não escutaremos nada acerca do nascimento de Jesus. Não porque o Evangelista não saiba, ou não queira, claro. A verdade é que, quando se começam a contar as histórias das grandes figuras, muitas vezes fica muito por contar. É o caso de Marcos, não por querer, mas sim porque não é necessário. Para Marcos, a Divindade de Jesus começa no início do seu ministério. Começa no despontar da sua missão no meio de nós. 

Mas afinal quem é Jesus? Por que é que Ele é o Filho de Deus?

As respostas a estas perguntas iremos encontrá-las à medida que lemos os Evangelhos, mas engana-se quem está à espera de receitas ou soluções para as suas próprias respostas ou atos de fé. A narração de Marcos dá resposta àquela comunidade específica. Mas não desanimemos; há uma possibilidade de também nós descobrirmos quem é Jesus. Todavia, para tal são necessárias três atitudes: leitura, humildade e fé. 

Em primeiro lugar, só uma leitura atenta, contínua, é capaz de nos aproximar e nos envolver no texto. Em segundo lugar, vem a humildade em reconhecer que as palavras são uma ínfima parte daquilo que é Jesus. E, em terceiro lugar, porque só pela fé compreenderemos os gestos, as palavras e passamos da mera história de um homem bom para a história do homem Deus. 

Contudo, como em qualquer história, há um início. O Evangelho de hoje começa por mencionar-nos a história de João Batista, do homem que faz a ligação entre dois mundos. O homem da viragem da história. A ele cabe-lhe fazer a passagem do Antigo Testamento para a Boa Nova inaugurada em Jesus. Fazer a passagem do Batismo da penitência, para o Batismo da misericórdia.  A missão de João é de mostrar-nos que toda a história tem raízes e que a vida de Jesus não provém de um contexto vazio, não surge do nada.  Jesus surge num contexto, num povo, numa terra e em circunstâncias sociais e religiosas concretas. Jesus é aquele de quem o profeta Isaías anuncia e de quem João Batista pede para preparar o caminho.

Mas quem é este João? 

Sempre que leio esta passagem evangélica não há como não ficar perplexo. Quem é este homem que se veste com peles de camelo, que come gafanhotos e mel silvestre e que vive no deserto? Pela descrição feita, hoje poderíamos dizer que era um sem-abrigo, um louco, um hippie naturista, um exotérico estranho, entre outras coisas.  Num mundo de cópias, os nossos olhos não estão habituados a originais. João era original, vivia aquilo que pregava e, por isso, a sua mensagem era credível. Por isso, as suas palavras eram proféticas. Por isso, acorriam a ele toda a gente da região. 

Também o nosso mundo é feito destes homens estranhos, de homens simples, que fogem do ruído do mundo para as periferias desérticas da vida. Que vivem pobres, mas ricos em sabedoria. Que anunciam Jesus não apenas com palavras eloquentes, mas com a própria vida. Quiçá muitos desses homens estranhos não serão os nossos avós, os nossos pais, os nossos vizinhos. Muitas vezes só nos fixamos na estranheza da imagem, pois não somos capazes de ir ao fundo, à essência da vida de cada um. Ficamos apenas na pele de camelo e nos gafanhotos, ou seja, na superficialidade da aparência. 

Que neste Advento possamos ser como João: verdadeiros originais e deixemos de ser meras cópias, neste mundo onde ser igual é a imagem de marca. 

 

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