Os pormenores que fazem a diferença

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Homilia XVIII do Tempo Comum

Os pormenores que fazem a diferença

Quantas vezes já nos aconteceu serem alguns detalhes que fazem a diferença? São muitos os exemplos concretos em que esses detalhes são muitas vezes linhas ténues que fazem grande diferença na nossa vida. Por uma décima posso não entrar no curso superior que gostaria, por um cêntimo posso não levar o produto que quero, por um minuto posso perder o comboio… Enfim, são muitos os exemplos que poderíamos dar, tal como no Evangelho de hoje (Mt 22,1-14), em que nos é relatado o caso de um homem que, por não vestir um traje nupcial, não pode entrar no Reino de Deus.

Os detalhes recordam-nos que existem critérios muito importantes para a nossa vida. Utilizando as imagens anteriores poderíamos dizer que aquela décima recorda-me o quanto devo estudar, aquele cêntimo recorda-me o valor do dinheiro, aquele minuto diz-me a importância de chegar a horas.

E o traje nupcial recorda-me o como tenho de estar diante de Deus.

Mas o nosso Bom Deus é o Deus das últimas oportunidades. É o Deus que acolheu o bom ladrão no último momento da vida. É o Deus que perdoou a Pedro mesmo quando tudo parecia imperdoável. É o Deus que chama um publicano esquecido num sicómoro. É o Deus que salva uma prostituta do apedrejamento. É o Deus que, como Rei, prepara um banquete para todos e a todos dá a oportunidade de participar na sua vida. É o Deus que te diz “Amigo, levanta-te, vai mudar o teu traje”, ou seja, vai mudar a tua vida e volta. No fundo, é como se fôssemos convidados para aquela festa temática e, quando lá chegamos, o organizador nos diz, vai lá trocar o fato que eu reservo o teu lugar, mas despacha-te.

Todos estamos chamados à Salvação, o problema é que nem todos a queremos. Deus abre a todos a oportunidade de participarem desta vida divina, mas nem todos são escolhidos, não por vontade de Deus, mas por nossa própria vontade. Parece simples a escolha, parece tão simples ganhar o céu. Mas por que é que é tão difícil alcançá-lo? Este é o nosso calcanhar de Aquiles.

A melhor forma de encarar este desafio, ou seja, de justificar a nossa eleição, é olharmos para a nossa vida como um caminho que se faz com trabalho, dedicação, que por vezes tem curvas, outras vezes é montanhoso, e outras é plano. A santidade de vida conquista-se nas lutas diárias, no esforço pessoal. Ganhar o céu dá trabalho, fazer o bem dá trabalho, amar dá trabalho. Retiremos da nossa vida a ilusão de que para ganhar o céu, mesmo na última hora, é algo fácil. Todos aqueles que Deus salva, tiveram, têm e terão sempre dificuldade em assumir uma vida nova em Cristo. Quantos irmãos para ganharem o Reino de Deus tiveram de mudar de vida? Quantos tiveram de arrepender-se? Quantos tiveram de pedir perdão? Isto custa, mesmo que seja no último momento da nossa vida.

Deus dá-nos uma vida inteira para nos prepararmos, não guardemos para a última, pois, se esperamos pelo detalhe, pela última oportunidade, ou pela última hora, podemos correr o risco de nos despistarmos. E, apesar do nosso Deus ser o Deus das últimas oportunidades, nós somos muitas vezes esses homens que não as sabem agarrar.