Sábado Santo

Homilia de Sábado Santo
Voltar onde tudo começou
Diz o ditado popular que, quando a esmola é grande, o pobre desconfia! O grande dom que Jesus tinha reservado para aqueles discípulos era tão grande que eles não conseguiram digerir as palavras daquelas mulheres. Necessitaram de verificar pessoalmente a realidade do sucedido e, por isso, foram a correr a toda a pressa ao sepulcro! Veem o que as mulheres lhes tinham descrito! E se a primeira parte do discurso delas – o desaparecimento do corpo de Jesus – se verificou de verdade, só faltava testemunhar a segunda parte, isto é, provar que aquilo que viram era sinal da Ressurreição. Para tal, é necessário voltar ao início da história e recapitular toda a vida à luz daquele túmulo vazio. Por outras palavras, é necessário voltar à Galileia, onde Jesus tinha chamado aqueles discípulos, e reler de novo a história para entender que, tudo aquilo que Ele prometeu, Ele cumpriu, inclusivamente quando disse que ressuscitaria!
Esta leitura da verdade histórica não é tão descabida quanto nós pensamos. Fazemos este exercício constantemente: quando perdemos algo e tentamos fazer o circuito dos nossos passos para percebermos onde poderíamos ter perdido. Ou até quando nós temos uma ideia sobre uma pessoa e recapitulamos alguns sinais que, no passado, já previam determinados desfechos.
Voltar à Galileia significa voltar onde tudo começou, voltar ao ponto de partida, que, como vemos, coincide também com o ponto de chegada; ou seja, encontrar aquilo que estava ali, mas agora noutra presença! O texto bíblico dá-nos algumas pistas de algumas características de como encontrar Jesus:
A primeira, é voltar ao caminho da fé recordando as suas palavras e os acontecimentos fundantes.
A segunda, é fazer essa experiência pessoal de fé. Ver as ligaduras. Deixar-se levar pelo o espanto diante da verdade. Pedro necessita de acreditar, não porque alguém lhe disse, mas porque ele próprio viu, sentiu, agarrou e experimentou que Jesus Cristo é o Messias!
A terceira, é reunir-se com os irmãos. O encontro com Jesus não é nem pode ser um caminho meramente solitário! Ser testemunha da Ressurreição não é uma revelação para alguns! Só uma fé vivida e posta em comum permite que toda e qualquer afirmação não seja um desvario, como pareceu a Pedro no início, mas uma afirmação credível.
A história em Deus faz-se constantemente deste avivar a memória. A liturgia de hoje é expoente disso mesmo! Deste avivar a memória de que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança e, por isso, possuímos uma dignidade. Avivar a memória de que somos seres livres e que o Senhor nos liberta de tudo e de todos aqueles que nos perseguem. E deste avivar a memória de que, mesmo com os nossos pecados e infidelidades, o Senhor Deus continua fiel à sua promessa. O avivar a memória de que Jesus morreu e ressuscitou pela Salvação de cada um de nós. Deste avivar a nossa memória batismal de que todos estes acontecimentos continuam a ser acontecimentos reais, porque real é o nosso Batismo em Cristo Jesus! Fazer memória do Ressuscitado é fazer memória daquele em que se funda esse mesmo Batismo. Por outras palavras, é voltar àquela água, que não é a do Mar da Galileia, mas da fonte batismal; recordar aquelas palavras e reconhecê-Lo à luz dos sinais que Ele nos dá.