Celebração de Sexta feira Santa! Paixão do Senhor!

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Homilia de Sexta-feira Santa

Teatro de operações

Quando ligamos os telejornais e estes nos colocam diante uma catástrofe ouvimos muitas vezes a expressão: “estamos aqui no teatro de operações”. Quando a ouvimos não questionamos a razão dessa expressão teatral tendo em conta que o que está ali a acontecer é realidade?

Infelizmente, a sociedade contemporânea tem um olhar muito irrealista sobre a mesma realidade, ou porque não a quer assumir, ou porque sabe que tudo o que sucede terá um fim, e que, ao fim de um tempo, apenas ficará nos anais da história e, nos melhores casos, até inspirará um filme ou documentário!

Quando olhamos para a morte de Jesus, infelizmente, para muitos o sentimento é o mesmo! Jesus morre, mas o importante é que no final Ele ressuscita e, por isso, não é necessário perder tempo na análise de tanto sofrimento. Ainda olhamos para Jesus como se tudo isto fosse um filme, que preenche de forma profunda uns dias do ano e que enche muitas salas de cinema. Infelizmente, a morte de Jesus não é um filme e tão pouco é algo que posso eliminar na sequência da Sua vida, embora saiba que a morte nunca sairá vitoriosa!

Todo o processo da morte de Jesus, que lemos em todas as Sextas-feiras Santas, mostra-nos verdades profundas.

Vemos o valor de uma amizade – de Pedro e de Judas – que também trai, porque se sentiu traída nas suas conceções de um Messias Rei e, quando olham à sua volta, veem um homem a aceitar todo o sofrimento humano sobre Si, dizendo que esta é a verdadeira realeza.

Vemos o valor da verdade – de Jesus e de Pilatos – que, mais do que um conceito abstrato e subjetivo, em Deus torna-se uma pessoa, que mostra a realidade tal como ela é. É a verdade pura, porque mostra quem realmente é Deus!

Ao logo deste processo vemos a olho nu o valor da justiça, que é sempre relativizada pelos homens para justificarem as suas opções. Por isso, muitas vezes deixam-se guiar pelas maiorias e não pelos princípios (povo), muitas vezes deixam-se guiar pelos próprios interesses (sacerdotes), muitas vezes deixam-se amedrontar pelos lóbis (Pilatos) lavando as mãos e descartando responsabilidades.

Vemos ainda outros valores como o da fidelidade, como aquele discípulo amado que nunca abandona o caminho. O valor da caridade, como o caso de José de Arimateia que prepara um sepulcro para Jesus.

São muitas as realidades que a Paixão de Jesus nos dá. Mas, sobretudo, mostra-nos que a vida não é uma peça de teatro como nós pensamos! A vida é real e este acontecimento é fundante na nossa história pessoal e coletiva. Pois nenhum teatro nos salva como a realidade Jesus nos salvou. Nenhum teatro nos ama como Ele nos continua a amar. E, se colocarmos mãos na nossa consciência, vemos que, se este acontecimento fosse meramente uma história, mais tarde ou mais cedo, por muito boa que seja, acabaria esquecida na poeira de uma estante numa biblioteca qualquer.