Pe. Miguel Abreu – CELEBRAÇÃO DOS 25 ANOS SACERDOTAIS
Caríssimos colegas no Sacerdócio, caríssimo P. Ivo, caríssimos paroquianos e demais pessoas que vieram das terras de Castro Daire

Já vai distante o dia 6 de Novembro de 1977, em que na Comunidade Paroquial de Vilar Seco, no concelho de Nelas, recebi das mãos do Senhor D. José Pedro, na altura, Bispo de Viseu, o Sacramento da Ordem. Já lá vão 25 anos de Vida Sacerdotal. Como Deus é bom! O Sacerdócio é mesmo um Dom gratuito de Deus, não tem muitas explicações humanas. Afinal, porquê eu e não tantos outros? Nasci numa família igual a tantas outras. Numa família numerosa em que eu era o mais novo dos 7 filhos. Os meus pais eram pessoas como tantas outras, com virtudes e com defeitos. Foi aí que eu cresci. Foi aí que Deus me chamou e começou a minha vocação. Andava eu na 3ª Classe, quando me foi pedido, com aprovação dos meus pais, para ser sacristão( na altura ainda não se falava nos acólitos) para ajudar à Missa e tocar os Sinos da Igreja todos os dias, à hora do meio dia. Assim começou uma relação mais próxima com as realidades sagradas que pouco a pouco começaram a despertar em mim um gosto em ser padre. Foi assim que eu repetia, tantas vezes em casa e até nos campos, debaixo das árvores a missa que o meu Pároco celebrava na igreja. Criancices, é certo, mas que denotavam algo que Deus ia realizando no mais profundo do meu ser. Os estudos vão continuando. Preparo os exames de Admissão ao Liceu e à Escola Comercial e Industrial de Viseu, sem saber ainda o que iria acontecer, mas o mais provável era ficar por ali. É nesse contexto, que a minha Professora Primária me manda fazer uma composição sobre aquilo que gostaria de ser no futuro ao que eu respondo que gostaria de ser padre. Ela leu a composição (nessa altura chamava-se redacção) com atenção e interrogou-me se aquilo que tinha escrito era o que sinceramente desejava e perante a minha convicção faz os necessários contactos com os meus pais e posteriormente com o meu Pároco e assim lá vai o Miguel fazer o Exame de Admissão ao Seminário de Fornos de Algodres, não deixando de concluir os exames de Admissão quer ao Liceu, quer à Escola Comercial. Em poucos dias aquele garoto, sujeitar-se – ia a três exames nas provas escritas e orais. Fica para trás uma possível entrada no Liceu ou na Escola e agora o que conta é o Seminário. São assim os caminhos de Deus. Durante 12 anos frequentei os Seminários da Diocese, com altos e baixos, com dúvidas e incertezas, mas sempre com um ideal determinado, ficaria muito feliz se tivesse a certeza de que Deus me queria ver Sacerdote. A ideia de ser padre era algo que me dava muita alegria. Devo referir um acontecimento que marcou a minha caminhada para o Sacerdócio. Um dia, em pleno Retiro Espiritual, no Seminário em Viseu, abordei um Sacerdote para me ajudar a discernir a minha vocação. Depois de lhe ter aberto o meu coração e lhe ter dito tudo quanto sentia, ele disse- me que não duvidava que a minha estrada era o sacerdócio. Foi decisivo, não olhei mais para trás, enorme a alegria, por alguém, em nome de Deus, me dizer que a minha vocação era ser padre.
E chega o dia da minha ordenação: 6 de Novembro. Dia de chuva miudinha como que a simbolizar a graça de Deus a penetrar a minha vida. Recordo que foi um dia muito calmo e sereno, de alguém que está no caminho certo. Um dia muito feliz para o meu pai e para a minha mãe. Quanto eles não trabalharam e se sacrificaram para que houvesse o dinheiro necessário para as despesas. Há 37 anos, quando entrei para o Seminário, pagava 100$00 de mensalidade só para a alimentação, fora as outras despesas. Entretanto, o meu pai ganhava 20$00, por dia, na agricultura. Quanto eles fizeram por mim. O meu obrigado à minha mãe que está aqui entre nós e um obrigado ao meu pai, que Deus já chamou e espero esteja junto d’Ele, também a celebrar connosco.
Após a ordenação, o Senhor Bispo, destinou-me para o Seminário de Fornos como Prefeito e Professor. Sem experiência, mas em que a vida nos ensina e abre caminhos. Aí estive oito anos acompanhando muitas centenas de jovens, alguns dos quais hoje são também sacerdotes .Nos tempos livres, ajudava os colegas nas Paróquias e por isso tive a oportunidade única de percorrer muitas das paróquias da Diocese. Também orientei muitos retiros espirituais, quer em Viseu, quer em Fátima e em alguns seminários. Ao fim de 8 anos, o Senhor Bispo destinou-me para a Vida Paroquial, após solicitação minha. É assim que em Janeiro de 1985 tomo conta de três paróquias no Concelho de Castro Daire, Mamouros, Pepim e Ribolhos. Era um grande desafio. Um mundo diferente a todos os níveis: geografia, pessoas, responsabilidade. O zelo pastoral, a graça de Deus , a colaboração e amizade das pessoas ajudaram-me a ultrapassar todas as dificuldades que foram surgindo e a desenvolver acções que estou convencido que ajudaram muito as gentes daquela região. Dei muito de mim àquelas Comunidades e aprendi muito com aquelas pessoas. Dou graças a Deus por ter passado por aquela zona. Só Deus pode avaliar o quanto se fez, entretanto há marcas visíveis do esforço colectivo e que ficam para a história. Recordo apenas a construção da residência paroquial, nas Termas do Carvalhal e o Salão Paroquial em Mamouros. Construção da Igreja Paroquial em Ribolhos, a reconstrução do Salão Paroquial em Pepim, para lá do restauro de todos os lugares de Culto dessas paróquias. Trabalhou-se muito e a um ritmo invulgar. Durante perto de dois anos tive que ainda acumular uma outra paróquia, a de Alva, da qual retenho igualmente gratas recordações. Não posso esquecer aquele famoso cortejo de oferendas para a construção do Salão Paroquial de Alva, que entretanto tivemos que adaptar e concluir. Foram 10 anos de muitíssimo trabalho pastoral mas de muitíssimas gratificações humanas, espirituais e pastorais. Não poderei esconder a simpatia e o afecto que nutro por aquela gente. Devo confessar que sinto um certo orgulho espiritual por ter sido pároco da paróquia de Mamouros onde nasceu e cresceu o Senhor D. Manuel Felício, nomeado Bispo para Lisboa e que durante aqueles 10 anos me ajudou e que conjuntamente fomos descobrindo o melhor para aquela comunidade. Entretanto, porque a novidade é fundamental na nossa vida, propus ao Senhor Bispo que uma mudança talvez fosse interessante, para um novo folgo pastoral.
Foi o que aconteceu. No dia 17 de Setembro de 1995, por nomeação do Senhor D. António, tomei conta desta Paróquia do Campo. Um novo desafio. Nova zona e nova gente. Trazíamos uma experiência feita, mas agora estávamos diante de uma outra realidade. Não há paróquias iguais, todas elas são diferentes. E começámos, com o mesmo zelo e entusiasmo pastorais, continuando o belíssimo trabalho pastoral do meu antecessor, o Senhor P. António João Neves, imprimindo o meu ritmo e forma de ser, pois como não há paróquias iguais, também não há pastores iguais. Ao longo destes 7 anos várias foram as frentes em que nós nos empenhámos, procurando fazer o melhor que sabíamos e podíamos. Uma análise profunda e verdadeira, só Deus a pode fazer, dos frutos espirituais obtidos, só Deus o pode dizer. Entretanto, há realidades que surgiram nestes 7 anos: o Agrupamento dos Escuteiros, a criação do jornal paroquial “Terras de Santa Maria Madalena”, a criação do Centro Social Paroquial, já a funcionar com duas valências: o Apoio Domiciliário e o ATL. Como estrutura física, o Complexo Pastoral de Moselos, o arranjo significativo da nossa Igreja Paroquial. Houve uma preocupação na formação religiosa, tendo desenvolvido, a vários níveis a formação Bíblica, estando já no 2º ano a decorrer um curso de teologia. Os Consagrados da paróquia são em grande número e por isso temos vindo a fazer em cada ano o dia do Consagrado. Como estruturas de corresponsabilidade, criámos o Conselho Económico e o Conselho Pastoral, dando uma maior responsabilidade às Comissões de Culto. Quero dizer que considero da maior importância a nomeação da Comissão de Culto da Igreja Paroquial, os efeitos estão à vista. A pastoral dos doentes tem estado nas nossas preocupações, e o Dia do Doente e do Idoso é disso uma prova. Temos dado a atenção possível para que a nossa Paróquia se desenvolva nas várias dimensões da vida humana e por isso lançou-se a chamada Semana Cultural Paroquial que ainda não deu os frutos desejados, mas que é sinal de uma preocupação nossa. Tem sido preocupação nossa que a Paróquia nos seus vários sectores pastorais se integre na Pastoral Diocesana e como exemplos, referimos a pastoral juvenil e a catequese. Neste momento, ao nível de estruturas físicas que consideramos fundamentais, candidatámos o Centro Pastoral de Vila Nova a apoios estatais, estando o projecto do Centro pastoral de Moure em fase de acabamento. Considero ,ao nível das estruturas físicas, a Construção do Centro Social Paroquial, o nosso grande desafio e vai uma confidência, gostaria que a minha passagem por aqui ajudasse a Comunidade Paroquial a concretizar esse objectivo que considero ser colectivo. Muito foi feito, muito há para fazer. Não podemos descansar em cima do que se fez. A renovação de uma paróquia tem que ser constante e ela realiza-se em várias frentes tendo em conta a realidade humana no tempo. Reconheço que talvez tenhamos descurado ou dado menos atenção a alguns aspectos da vida da comunidade, entretanto, temos que apontar prioridades, que podem não ser as melhores, mas que segundo a nossa forma de ver, julgámos as mais necessárias.
Ao longo destes 7 anos, não posso deixar de realçar o extraordinário trabalho e colaboração activa e empenhada de tantos paroquianos nos vários serviços, ministérios, movimentos , obras de apostolado, estruturas de corresponsabilidade que não individualizo por razões óbvias, mas que obviamente todos conhecem e reconhecem e a quem, eu, pessoalmente, agradeço e reconheço.
E se eu referi estas coisas, não teve outro intento, senão pôr em evidência aquelas realidades que mais marcaram estes meus 25 anos de vida sacerdotal, para além do muito que não se pode materializar, nem divulgar, porque são vivências muito pessoais e que acompanham a nossa vida ministerial no mais profundo do nosso ser. Só Deus pode avaliar estes 25 anos. Muitos frutos, disso estou certo, Muitos erros, disso igualmente estou certo, muito zelo pastoral é um facto. Nunca me arrependi de ser padre, nunca me envergonhei de me apresentar como tal . Há uma certeza que me tem acompanhado ao longo destes 25 anos: Deus gosta muito de mim. Ama-me muito. Sinto muito a protecção da Nossa Senhora ,a nossa Mãe. Tenho a consciência clara que não mereço tanto amor, atenção de Deus e da Virgem Mãe. Esta celebração de Acção de Graças e que é também uma homenagem vossa ao Sacerdócio que está em nós, agradeço profundamente, pelo que ela é e significa. O meu muito obrigado a todos vós.
Não posso deixar de manifestar a minha alegria pela presença dos sacerdotes e de um modo especial do P. Ivo que também este ano está a celebrar os seus 25 anos de vida sacerdotal.Foi precisamente no dia 31 de julho de 1977 que ele recebeu o sacramento da Ordem. Fico muitíssimo contente pela paróquia a que ele pertence o estar a homenagear neste dia. Posso referir que o conheci assim como ao P. Feliz aquando da nossa passagem pela Academia Militar, em Lisboa quando fizemos o Curso de Capelães Militares. Nunca me passaria pela cabeça que um dia iríamos estar tão unidos. Devo dizê-lo publicamente que tenho no P. Ivo, mais do que um colega, um grande amigo, sei do bem que me tem feito, do bem exagerado que tem dito de mim e da colaboração sempre pronta que me tem prestado. P. Ivo, deixa que te diga: tenho um santo orgulho em ter assim um paroquiano.
Senhor José da Costa, que ficará na história desta Paróquia, pela colaboração dada ao longo dos anos e a vários Párocos, como sacristão. A homenagem que neste dia , a Paróquia lhe está a fazer é bem merecida e fiquei muito contente que pudesse ser feita neste dia. Como vê, o bem, o serviço à Comunidade nunca é esquecido. Em nome da Paróquia aqui fica o nosso público reconhecimento.
Entretanto, a vida continua. E precisamos de viver com a sabedoria que vem de Deus em cada momento presente da vida. A sabedoria é um Dom do Espírito Santo dado a todos nós e que para nós, de um modo especial, os sacerdotes, é fundamental. Ser Sacerdote é uma missão belíssima, poder emprestar as mãos, os pés, a boca, o coração, a vontade, a inteligência, todo o nosso ser ao Senhor é de tal maneira grande que não se pode explicar nem compreender totalmente aqui na terra. O Sacerdote é um outro Cristo. Começa hoje a Semana dos Seminários. Semana em que todos somos convidados a reflectir sobre o Sacerdócio Ministerial. A nossa paróquia ao longo dos tempos viu surgir no seu seio muitas vocações sacerdotais, missionárias e religiosas. Alguns deles estão aqui, hoje, connosco, outros não puderam estar presente, mas sabemos que estão presentes em espírito e na oração. Vamos pedir ao Senhor da Messe, à Rainha Mãe que suscite mais vocações na nossa Paróquia.
Uma última palavra e esta é de agradecimento a todos os sacerdotes e religiosas que estão hoje aqui connosco, a todos vós que quisestes associar-vos a esta celebração de Acção de Graças ao Senhor e um agradecimento todo ele especial aos que promoveram e organizaram esta celebração e esta homenagem ao Sacerdócio nas nossas pessoas. Obrigado Senhor por tudo aquilo que em nós fizestes. Em tudo seja Deus louvado. Amen!